Nasce a Frente Nacional de Mulheres do Hip Hop (FNMH2), uma organização só delas, com muitas ideias para debater e um grande espaço para conquistar, sem criação de estereótipos ou convenções e com o toque feminino, a proatividade e a afetividade que lhe são peculiares.
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B.Girls: The Power Dance | |
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As mulheres do Hip Hop: Rubia, Sharylaine, Lunna, Ed Weller e Malu Viana |
Uma das grandes questões de qualquer nova organização é a adesão de novas militantes e, no caso da FNMH2, de como uma mulher comum pode atuar nessas frentes. A ativista atual tem à disposição a tecnologia a seu favor, o grande problema é que uns têm acesso, outros não. “Com a tecnologia a gente consegue chegar mais longe, fazer intercâmbio com os Estados, porém, temos dificuldades, porque muitos dos ativistas do hip hop ainda estão longe dessas tecnologias”, explica Sharylaine. A rapper ainda lembra que muitas ativistas do passado foram buscar informação e formação. “Isso fez com que a gente andasse por outros espaços.” Mas adesão de novas militantes é sempre difícil, segundo Sharylaine. “Tanto atrás, como agora, são poucas as que participam. Essa coisa do ativismo não é para a massa, mas a mulher comum pode participar indo aos eventos gratuitos em que a participação dos filhos é incentivada. “Quando a gente faz uma discussão de violência contra mulher, trazemos históricos, depoimentos e informações como onde procurar casas de acolhidas, por exemplo. Sempre tem alguma coisa que a mulher comum se identifica”, ressalta.
Certo mesmo é que dá sim para unir as atividades do cotidiano com o ativismo. Nos eventos da FNMH2, não são apenas pessoas ligadas ao hip hop que participam. Tem jornalistas, advogadas, artistas, educadoras, pedagogas... São várias mulheres que contribuem para a discussão de temas ligados a elas, direta ou indiretamente. Para Rubia, é nítida a diferença entre a militante do passado e a de hoje. “É a quantidade de informação e preocupação de conhecer a história do movimento, porque você não é nada sem história”, diz, com ênfase; Já a carioca Ed Wheller, de 39 anos, que começou no rap faz uma década com o grupo As Damas do Rap, enxerga como a sua geração influenciou a atual. “O amadurecimento de ativistas antigas desperta na nova geração a vontade de procurar interpretar o que está sendo colocado à sua frente. A mulher de hoje cobra ser ouvida e ter um papel na sociedade que não se restringe a dona de casa, mãe e esposa. Agora, faz parte de qualquer uma ser ativista no seu cotidiano. Quem busca o ‘algo a mais’, sempre está engajada em uma causa que acredita”, explica.
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Riska e sua oficina de grafiti |
Informação e engajamento
Como citado no início da matéria, as “meninas” da Frente Nacional de Mulheres do Hip Hop têm outras preocupações, além dos caminhos que o movimento pode tomar com uma maior participação delas. Na verdade, está tudo interligado. “Nosso foco são temas relacionados ao que vivenciamos: violência contra mulher, homofobia, o aumento da AIDS entre mulheres casadas, doenças sexualmente transmissíveis, mãe solteira...”, conta Ed Wheller. Problemas graves da nossa sociedade que elas enfrentam com força e determinação, mas sempre com pé na realidade. “Não adianta fazer de conta que está tudo bem. Nossa preocupação é que a informação chegue principalmente às adolescentes da periferia. Os temas não são agradáveis, mas se fazem necessários. As meninas vêm em nossas palestras porque elas ouvem aqui o que não ouvem dentro de casa, nem na escola. Estamos no século 21, mas as cabeças, estas ainda estão pequenas. E não é por falta de informação, é por comodismo mesmo” reforça a rapper Rubia. Informação e educação caminham lado a lado e, nesse contexto, o hip hop se mostra como uma importante ferramenta, principalmente para jovens e mulheres. É preciso também, saber claramente o que é o hip hop no Brasil. Malu Viana alerta para as falsas propagandas dos clipes internacionais de rap que, de certa forma, influenciam muita gente e deturpam a visão do movimento. “O hip hop não é isso, fama, dinheiro, cordões de ouro. No Brasil a história é bem diferente. O hip hop brasileiro foi resignificado com uma construção política e social.”
As atividades das mulheres dentro do hip hop acontecem faz muitos anos, mas somente depois da criação do site Mulheres no Hip Hop (
www.mulheresnohiphop.com.br), em 2004, é que a FNMH2 começou a tomar forma e a realizar eventos, culminando, em 2010, na realização do I Fórum de Mulheres no Hip Hop, realizado em Carapicuíba, em São Paulo. No evento, mulheres de mais de oito estados brasileiros formataram uma carta de intenções. Desde então, foram criadas representações em várias cidades, coordenadorias nos estados, direção nacional e o estatuto. Já são 14 estados participantes. A Frente Nacional de Mulheres do Hip Hop é composta por coletivos femininos, grupos de rap, Djs, B. Girls, grafiteiras, escritoras, produtoras culturais e simpatizantes que contribuem com a organização. A filiação não tem custo algum.
Fonte: Revista Raça Brasil